BIÓPSIA EMBRIONÁRIA

Publicado em 17/03/2023

Escrito por Dr. Francisco Furtado Filho, ginecologista, obstetra é especialista em reprodução humana CRM PR 12552

 

DPI
(Diagnóstico Pré-Implantacional)

DPI é um exame genético realizado a partir das células de embriões em cultivo no laboratório de FIV (Fertilização In Vitro) evitando-se dessa maneira o nascimento de bebês com problemas (síndromes genéticas).
As biópsias embrionárias podem ser realizadas no terceiro (D3) ou, preferencialmente no quinto dia de cultivo (D5).
Quando temos condições para a transferência embrionária ocorrer à fresco, e portanto, no mesmo ciclo de indução da ovulação e a coleta dos óvulos, o resultado dessas biópsias podem ficar prontas em 24 horas dependendo da disponibilidade do laboratório de genética.

Nos demais casos, os embriões biopsiados e ou excedentes serão congelados (vitrificados) para serem transferidos em ciclo a ser programado. Diante disso a urgência no resultado das biópsias se faz necessário.
O NGS (New Generation Sequencing) é a técnica mais atual e precisa em uso para o diagnóstico pré-implantacional (PGS) que estuda 24 cromossomos com uma precisão excepcional afastando a presença de todas as aneuploidias que são as alterações quanto ao número de cromossomos (perdas/monossomias ou ganhos/trissomias) causado por erros na divisão das células.

Quando fazer o exame ?

Casais com histórico de doenças hereditárias:
Sindrome de Patau (cromossomo 13)
Síndrome de Edwards (cromossomo 18)
Síndrome de Down (cromossomo 21)
Cromossomos sexuais X e Y
Hemofilia
Turnner
Outras

Casais com falhas de implantação sem causa aparente

Casais com aborto de repetição

Casais em que as mulheres estão com 37 anos ou mais

Pode ser usado para escolha do sexo do bebê?

Apesar de constar no laudo das biópsias o sexo dos embriões biopsiados, por questões éticas, não aconselha-se que seja feito com esse fim.
Mesmo porque a pergunta é o que fazer com embriões saudáveis com o sexo oposto ao desejado pelo casal ?
O embrião só pode permanecer congelado ou doado.
O bom senso entre o médico e o casal deve prevalecer.

A biópsia garante 100% de que o embrião analisado é normal?

A medicina é uma ciência de meios e não de fins, de tal modo que nada é 100% ou 0%. Em 95 a 99% das vezes o resultado é condizente com a realidade. Existem situações intermediárias na interpretação do exame que chamamos de mosaicos de baixo grau ou de alto grau.
Os embriões com mosaicos de baixo grau que tiveram um bom desenvolvimento no laboratório (divisão celular e clivagens adequadas) podem ser transferidos para o útero da mãe após uma longa conversa e autorização do casal cientes dos riscos envolvidos.
Eventual falha de implantação, abortamento ou a evolução de um bebê com alguma síndrome genética presente (problema de saúde) poderá ocorrer diante desses quadros.
Quanto aos embriões com mosaico de alto grau aconselha-se a não transferência deles por sabermos que por volta de 70% das células estudadas estão alteradas e o riscos são consideráveis para arriscarmos demasiadamente.

Os embriões em blastocisto (D5) podem estar alterados já que são considerados embriões de alta qualidade ?

Sim!! Principalmente em mulheres com a idade mais avançada e em embriões que estão com o desenvolvimento no laboratório mais lento que o habitual ou com a fragmentação do embrião mais evidente e presente.

A biópsia pode agredir o embrião trazendo algum prejuízo ?

A biópsia embrionária é um procedimento de alta complexidade que deve ser realizada por um embriologista capacitado e treinado para retirar algumas células de uma parte do embrião chamada de trofectoderma.
Desse modo a massa embrionária não é acometida não trazendo qualquer prejuízo para o embrião em desenvolvimento.
A chance disso acontecer é mínima.

As taxas de sucesso podem ser alteradas após a biópsia dos embriões ?

As biópsias embrionárias não são indicadas para todos os pacientes que se submetem a ciclos de FIV.
Critérios de indicaçao devem ser rigorosos de tal modo que a biópsia embrionária faça o seu papel aumentando as taxas cumulativas de nascidos vivos e saudáveis.
Não há dúvidas de que quando bem indicado e realizado em centro de reprodução assistida com experiência, conhecimento e domínio da técnica observemos uma melhora dos resultados.
Recentemente um trabalho publicado na revista Assisted Reproduction Technologies (PGT-A is associated with reduced cumulative live birth rate in first reported IVF stimulation cycles age <= 40 : an analysis of 133.494 autologous cycles reported to SART CORS) foram estudados 133.494 ciclos de FIV com uso de óvulos próprios e reportados para o SART CORS.
Os resultados mostraram que a biópsia embrionária está associada a uma menor taxa de nascidos vivos em pacientes abaixo de 35 anos e melhores taxas em pacientes acima de 40 anos.
Porém, em nenhum momento é possível distinguir os dados entre os centros de maior experiência e capacitação dos centros de menor expressão de tal modo que esse fator, bem como outros bastante importantes, não foram considerados.
Enfim, a indicação precisa e a execução com certeza podem beneficiar os casais que precisam dessa excepcional ferramenta que temos nos dias de hoje e principalmente se estiver fazendo o seu tratamento em um centro de excelência.

DPI em todos os casos ?

Não.
Mas quanto maior o número de informações que temos em nossas mãos quando fazemos um ciclo de FIV maior é a probabilidade de sucesso.
Sabermos que temos embriões geneticamente normais para transferirmos nos traz tranquilidade e maior expectativa de sucesso.
Proporciona a transferência de um número menor de embriões diminuindo as chances de gestação múltipla e o aumento das taxas de sucesso e de nascidos vivos.
Sem as biópsias os critérios utilizados para transferirmos esse ou aquele embrião estão relacionados a morfologia ( número de células e com maior ou menor fragmentação).
Isso implica em podermos transferir embriões inadequados que poderão ou não implantar-se no útero materno sem sabermos.
Nos principais centros de reprodução assistida do mundo essa prática não é mais utilizada.

 

Escrito por Dr. Francisco Furtado Filho, ginecologista, obstetra é especialista em reprodução humana CRM PR 12552